Consultoria afirma que norte-americanos trazem mais riscos por terem maior número de turistas e maior número de espécies exóticas
Helicoverpa armigera é uma praga exótica que foi introduzida no Brasil (Foto: Regina Sugayama/Arquivo pessoal) - _0helicoverpa
Por: ANDEF Associação de Defesa vegetal
Durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que acontecem entre os dias 5 e 21 de agosto de 2016, o Brasil receberá gente do mundo inteiro. A estimativa do Comitê Olímpico Brasileiro é que um milhão de turistas vindos de cerca de 200 países desembarquem para a competição. Além da bagagem comum, os turistas podem trazer pragas agrícolas exóticas que não existem no país, ainda que involuntariamente. Segundo a consultoria Oxya, os Estados Unidos são medalha de ouro em ameaça à agricultura brasileira: além de representarem a maior quantidade de visitantes, por lá existem 289 pragas que não existem por aqui. A prata fica com a Itália, com 205, e a Índia em terceiro, com 188 tipos (veja a tabela abaixo).
Embora o evento tenha como sede o Rio de Janeiro, um Estado com pouca tradição agrícola, algumas provas serão realizadas em outras localidades, como Manaus, Salvador, Brasília, Belo Horizonte e São Paulo, fazendo com que muitos desses viajantes se desloquem pelo país.
O risco é real: na China, por exemplo, mais de 50 espécies exóticas foram encontradas após os Jogos Olímpicos de 2008 e, de acordo com o levantamento da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), desde 2014, quando houve a Copa do Mundo de Futebol no Brasil, seis novas pragas foram detectadas e podem ter ligação com o fluxo do evento.
Fábio Kagi, gerente de educação e treinamento da Andef, conta que toda vez que acontece um fluxo migratório como esse, sempre existe a introdução de alguma praga, mas nem sempre elas sobrevivem no Brasil. “Às vezes ela fica restrita em um lugar e não se espalha. Essa relação não é direta, nem todas que entram causam prejuízo”, conta. Para que ela se estabeleça e dê prejuízos, é preciso que a praga encontre ambiente ideal para sobreviver e se reproduzir.
Praga agrícola Maconellicoccus hirsutus (Foto: Regina Sugayama/Arquivo pessoal).
As pragas podem ser introduzidas de diversas formas, desde uma mosca que entra pela porta do avião e “viaja” junto com os turistas; como propositalmente através de amostras biológicas em plantas e alimentos não industrializados trazidos na bagagem a fim de contaminar as lavouras do concorrente.
Para combater esse tipo de ação criminosa altamente prejudicial à atividade agrícola do Brasil, existem as barreiras sanitárias, controladas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), através dos fiscais agropecuários. Eles selecionam uma amostragem de passageiros para revista e, em algumas ocasiões, são apreendidos materiais impróprios que podem ameaçar a sanidade das lavouras.Mais recentemente, devido os Jogos Olímpicos, a entidade “contratou” cachorros treinados para farejar material biológico em alguns aeroportos estratégicos. “Eles sentem o cheiro de plantas e acham que é algum tipo de brincadeira. Após isso, os agentes vão revistar a bagagem do turista. É a mesma forma como é feita a barreira contra drogas como a cocaína, por exemplo”, explica Kagi.
Apesar das melhorias e do maior rigor na fronteira, Fábio Kagi acredita que ainda faltam investimentos para melhorar esse serviço. “Temos uma das agriculturas mais modernas e sustentáveis do mundo. O agronegócio tem um papel fundamental na economia e na geração de empregos no país. É preciso tomar todas as medidas possíveis para proteger os cultivos. Quase todas as pragas que hoje nos trazem prejuízos bilionários foram introduzidas de outros países. Em épocas de grande tráfego de pessoas, é preciso reforçar ainda mais as ações de educação e vigilância. Os fiscais sanitários trabalham com toda a atenção do mundo, mas se for olhar para o tanto de recursos destinados para a defesa sanitária, não é tanto, sempre pode aumentar. É importante que se invista nisso”, diz.
Soja
As pragas que podem ser mais afetadas são pêssego, ameixa e maçã, que juntas somam 123 tipos de pragas. A soja, principal produto agrícola do Brasil, é alvo de “apenas” 23 espécies. Apesar de ter menos ameaças, são essas que tornam a invasão ainda mais preocupante, pois a cultura tem sofrido com o ataque de novas pragas nos últimos anos.
Pelos cálculos da Oxya, ao menos 160 países que estarão nos Jogos do Rio 2016 apresentaram pelo menos uma espécie de praga para a oleaginosa que ainda não existe no Brasil. Entre os principais estão Estados Unidos (com 16 espécies exóticas), China (15), África do Sul (15) e Austrália (15).